Desde a queda no Jardim do Éden a mulher tem sido humilhada e sujeitada pelo homem. Quanto mais primitivo o povo, pior tem sido o tratamento dado à mulher. Em muitos casos ela tem sido considerada simplesmente escrava do homem. Alguns povos têm impedido a mulher de obter qualquer formação ou estudo. A maneira como a mulher muitas vezes tem sido tratada não é nem conveniente descrever para um público cristão. A forma insultuosa e degradante que ela tem sido obrigada a suportar por parte de muitos homens ainda é uma realidade em muitos países. Somente o cristianismo verdadeiro pôde restituir à mulher a dignidade e os direitos que lhe cabem: um fato que creio ninguém tem coragem de negar.
Em uma sociedade sem preconceitos, na qual a verdade do Evangelho pode ser livremente proclamada, a mulher reconquista sua posição natural. Ela é reconduzida a igualdade com o homem. A mulher, quando criada, não foi tirada do pé do homem, para que não fosse por ele pisada, nem tampouco foi tirada da cabeça para que ela não dominasse sobre o homem. Não, ela foi tirada do seu lado, o que prova que a mulher deveria estar em posição de igualdade com o homem.
Quando Deus escolheu seu povo Israel e lhe deu sua revelação, era preciso ir ao seu encontro no ponto em que estavam e aos poucos elevar seu patamar moral. Foram muitas as coisas que o Senhor permitiu “por causa da dureza de coração” do povo. Mesmo assim, a mulher tinha uma situação bem melhor entre os judeus do que as mulheres dos povos vizinhos. O que o Antigo Testamento não pôde realizar, o Novo Testamento completa..
Um argumento comum contra a presença da mulher na proclamação do Evangelho é dizer que a função de pregador não é natural à mulher. Mas esse argumento tem sua origem no erro comum de confundir aquilo que é natural e decoroso, com aquilo a que estamos acostumados. O costume ou o hábito nos faz crer que coisas não naturais sejam na realidade corretas, enquanto outras perfeitamente corretas são vistas como não naturais por serem incomuns.
Outro argumento que temos ouvido é como pode alguém que se diz seguir a Palavra de Deus ter a coragem de defender o direito da mulher de falar na Igreja. Este é o argumento mais importante a ser respondido. Se o argumento fosse válido não apenas concordaríamos com ele, mas também daríamos nosso total apoio a esta posição. Cremos, no entanto, que poderemos dar uma interpretação e aplicação correta sobre o assunto no sentido de não apenas afirmar o direito da mulher pregar, mas até mesmo mostrar que a Bíblia incentiva que ela o faça.
Existem dois textos escritos pelo apóstolo Paulo que são geralmente citados neste contexto. 1 Coríntios 14.34 e 1 Timóteo 2.12. Nenhum dos dois pode, no entanto, ser usado para defender a idéia de que a mulher não deve pregar o Evangelho.
a. Porque vai contra o espírito do cristianismo. Deus em sua ação em prol da salvação do ser humano, assim como em seus deveres e direitos, não fez nenhuma distinção entre o homem e a mulher.
b. Porque vai contra a economia de Deus. Deus jamais criou algo sem um propósito, nem capacitou seres com dons e características que não poderiam ser utilizadas. Não é possível provar que a mulher teria menor capacidade do que o homem, menor sabedoria ou menos poder do Espírito Santo e por isto seria incapaz de pregar o Evangelho.
c. Porque vai contra profecias claras nas Escrituras. Segundo o profeta Joel viria um tempo em que não mais se faria distinção entre homem e mulher. Deus iria derramar seu Espírito sobre filhos e filhas (Joel 2.28 e 29). Esta profecia se cumpriu no Pentecoste e desde então não tem sido apenas uma promessa e, sim, uma realidade. A promessa do Espírito Santo já foi cumprida há 1900 anos e cremos que ainda hoje existem mulheres capacitadas pelo Espírito de Deus para proclamarem as verdades do Evangelho. A não ser que não creiamos mais no poder e na ação do Espírito Santo, uma proposta que só pode envergonhar a Igreja do Senhor.
Em vários lugares do Novo Testamento encontramos mulheres que oravam e profetizavam publicamente. Em 1 Coríntios 11.4-6 o apóstolo Paulo quer dar algumas orientações sobre como a profecia deveria ser entregue, mas não há dúvida de que ele permite que a mulher profetize. Em Atos 21.8 e 9 lemos como o apóstolo Paulo chega em Cesaréia e foi morar na casa do evangelista Filipe. Este tinha 4 filhas solteiras que profetizavam, e não me parece que em algum momento o apóstolo tenha lhes mandado calar.
Qual era o serviço de Febe em Romanos 16.1? Se ela servia na Igreja em Cencréia não é provável que ela tenha permanecido sempre “calada”. Certamente ensinou sobre Jesus Cristo e a salvação a muitos durante os anos que ali serviu. Aliás, neste capítulo 16 Paulo saúda tanto a homens como mulheres, sem exceção, pois tanto um como o outro grupo exerciam ministérios semelhantes tanto dentro de Igreja como fora dela. Quanto a Febe, Paulo usa a palavra diácono (em grego, diaconoi) para descrever o seu serviço. Esta palavra é a mesma usada sobre os discípulos e até sobre o Senhor Jesus. Observe os seguintes versos. “Pois eu lhes digo que Cristo se tornou servo (diaconoi) dos que são da circuncisão” (Rm 15.8); “Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos (diaconoi) por meio dos quais vocês vieram a crer” (1Co 3.15); Ele nos capacitou para sermos ministros (diaconoi) de uma nova aliança” (2Co 3.6); “Ao contrário, como servos (diaconoi) de Deus, recomendamo-nos de todas as formas” (2Co 4.6).
Poderíamos citar outros exemplos da Bíblia que mostram como mulheres pregavam o Evangelho no início da era cristã, mas cremos que já é suficiente.
Por fim, usa-se o argumento de que “Cristo não enviou nenhuma mulher a pregar, os apóstolos não enviaram nenhuma mulher, nem há nas Escrituras nenhuma ordem dizendo que elas deveriam se tornar pregadoras. Vejamos até onde nos leva este tipo de argumentação. È um fato que Cristo nunca construiu uma igreja, nem mandou que fossem construídas. Nem os apóstolos construíram algumas igrejas ou ensinavam seus membros a fazê-lo. Portanto, deve ser contra as Escrituras construir igrejas. A mesma argumentação pode ser usada para as Escolas Dominicais, grupos familiares, reuniões de estudo bíblico e uma série de instituições e práticas que temos em nosso meio. Este tipo de conclusão é falsa porque se baseia em premissas falsas.
Além disso, não é verdade que Jesus não enviou nenhuma mulher a proclamar o Evangelho. Em pelos menos duas ocasiões Jesus enviou uma mulher a proclamar as Boas Novas. Primeiro no encontro com a mulher samaritana. “[Jesus] lhe disse: ‘Vá, chame o seu marido e volte’... Então, deixando o seu cântaro, a mulher voltou à cidade e disse ao povo: ‘Venham ver um homem que me disse tudo o que tenho feito. Será que ele não é o Cristo?’ Então saíram da cidade e foram para onde ele estava.” (Jo 4.16,28-30). Ninguém pode negar que Jesus disse à mulher que deveria ir contar o que sabia sobre ele. A mulher foi à cidade e se dirigiu ao povo. Que outra coisa pode um pregador fazer? Sua tarefa consiste em contar aos outros sobre quem é Jesus.
Em outra passagem do evangelho de João está escrito: “Jesus disse: ‘Não me segure, pois ainda não voltei para o Pai. Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês’. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor!’ E contou o que ele lhe dissera.” (Jo 20.17,18). Este é o segundo texto no qual vemos o Senhor enviando uma mulher que deveria proclamar a Nova do Evangelho.
Para concluir vamos analisar os textos bíblicos usados por muitos como prova contra o direito da mulher publicamente se apresentar como ministra e pregadora da Palavra. Leia 1 Co 14.31-35.
Entendemos ser importante ler todo o contexto para melhor entender o objetivo do apóstolo ao escrever tais palavras. O verso 31 nos ensina que “pois vocês todos podem profetizar, cada um por sua vez”. No verso 34 está escrito: “permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas, pois não lhes é permitido falar”. No primeiro, Paulo diz que todos podem profetizar, no segundo afirma que as mulheres devem permanecer
O segundo texto é o de 1Tm 2.12: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio”. Mesmo que não há nenhuma evidência de que este texto esteja se referindo ao exercício público da palavra, iremos analisá-lo, haja visto que muitos o usam neste sentido. Pelo contexto podemos perceber que Paulo está se referindo, primeiramente, a mulher casada e não às mulheres em geral. Às solteiras e viúvas ele não tem nenhuma orientação a dar. As palavras do apóstolo se referem ao comportamento pessoal da mulher no contexto do lar. No mesmo texto há orientações quanto ao vestir e como deve agir em relação à sociedade em geral (com boas obras). Não há como inferir do texto que a mulher não poderia ensinar, nunca. Nem seus filhos, servos ou mesmo seu marido. O texto se refere ao ensino que exige submissão, subserviência. Este não caberia à mulher (e nem de fato, ao homem).
O contexto em que viviam as mulheres neste tempo é também bastante esclarecedor. Tanto em Corinto como em Éfeso (onde estava Timóteo) havia uma forte presença de idolatria ligada à deusas que eram servidas por mulheres-sacerdotisas. Este serviço implicava freqüentemente em prostituição e a imagem da mulher que se apresentava em público era bastante desgastada. Como, neste ambiente, seria aceita a palavra de uma mulher? Provavelmente, não poderiam ser levadas a sério e seu testemunho não seria cristão. Paulo recomenda que neste contexto as mulheres não ensinem.
Depois de trinta anos servindo ao lado de mulheres de Deus, minha experiência não tem me dado qualquer motivo de duvidar de que elas possam ocupar lugares de destaque na igreja, muito pelo contrário, estou convencido que a presença da mulher nos púlpitos e lugares públicos só traz bênçãos. Eu sou muito grato ao Senhor Jesus por que Ele não faz acepção de pessoas e tenho visto muitos exemplos de como Ele tem usado irmãs em Cristo de forma maravilhosa. É neste espírito e com o propósito de defender a missão da mulher contra aqueles que querem que ela se cale que escrevo este pequeno estudo.(Extraído do Site da Convenção das Igrejas Batistas Independentes - Texto escrito pelo Rev. John Ongmann).